Minha mãe já pediu algumas vezes pr’eu trocar o @ do instagram e colocar meu nome, pra soar mais profissional. Mas é que contadora de filmes é mesmo o que eu sou, antes de tudo. Antes de me reconhecer como diretora, ou roteirista, antes de saber que era possível fazer filmes e, especialmente, antes até de descobrir que alguém como eu poderia fazer.
Eu vim de Minas, do interior, e da periferia desse interior. Foi lá que eu aprendi o construtivo conceito de comunidade que permeia minha vida. Cresci circulando por mundos diferentes, até opostos, de pessoas ainda mais diferentes, partindo desse universo subestimado das cidades pequenas e desconhecidas, mas que contém mais experiências do que às vezes conseguimos processar. Nesse universo, vivíamos o que podíamos e precisávamos imaginar o que não existia — no plural mesmo, porque somos muitos e muitas. Com um pé na realidade e um coração propenso à magia, me formei uma contadora de histórias visuais e sonoras, essencialmente fantásticas, e assim fui descobrindo um Brasil enorme e possível. Que, antes de ir pra qualquer lugar ou seguir um rumo, precisa ser imaginado e sonhado por muitos.
No Rio de Janeiro conheci o audiovisual, motivada por pessoas e assuntos sem visibilidade e até então, buscando criar narrativas descentralizadas. Me encontrei com muitas pessoas e em muitas pessoas. De filme em filme independente, acumulando subjetividades e imaginários coletivos, e um pensamento crítico próprio, fui trilhando caminho que me formava como realizadora audiovisual e também como indivíduo. E apesar de já ter montado, filmado e dado assistências, foi em roteiro que me especializei e, posteriormente, na direção, onde me encontrei. Porque existe algo muito especial em cultivar um ponto de vista e um ponto de escuta sobre o mundo, e então poder compartilhar com outras pessoas.
Hoje, em São Paulo, eu venho sendo diretora de videoclipes e publicidade. Rumo ao cinema, qualquer dia, agora com um olhar talvez mais maduro artisticamente e tecnicamente para as questões que me acompanham desde muito tempo. Precisei usar a elipse aqui como recurso, afinal, não dá pra contar tudo. É muito chão, e tem sido uma jornada e tanto. No meio dela, tô eu, buscando meu olhar e minha voz depois de tantas experiências em que fui ponte, fui escuta, fui fala, fui na busca de um entendimento para as questões que me cativam, sim, mas também para as que me apavoram. Munida de certa sensibilidade.
Dirigi e/ou roteirizei videoclipes para diversos artistas, em especial o álbum de lançamento de César MC, com 3 videoclipes e 4 visualizers, além de Agnes Nunes, Clapivara, Thathi, Lucy Alves, Lourenna, Gabily, Ebony, Lary, Xamã, MC Cabelinho, PK Freestyle, DK47, Ryan Sp, MC Poze do Rodo e Guthierry. Na publicidade, dirigi para as marcas Visa, Santander, Guaraná Antártica, Adidas, Tip Top e Always. No entretenimento, fiz direção e roteiro da websérie “Querendo Assunto”, um programa de variedades idealizado pela escritora Ana Paula Lisboa, protagonizado por mulheres negras, como foco na multiplicidade de suas vivências e conversas abertas sobre diversos temas que permeiam suas vidas.
Sonho com o dia que vou poder ter a biografia de duas linhas como a do cineasta, fotógrafo e poeta iraniano, Abbas Kiarostami. Imagina só? Ana Valente: cineasta, fotógrafa, e poeta brasileira. No dia que isso acontecer, vou me sentir incrível!
Só que talvez minha mãe não curta.
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